Quanto a ti, se quiseres dizer ou escutar seja o que for de Deus, abandona a
tua corporalidade, repudia os teus sentidos [...], eleva a tua alma acima de
tudo o que foi criado e contempla a natureza divina: encontrá-la-ás imutável,
indivisa, a luz inacessível, a glória resplandecente, a bondade almejada, a
beleza inigualável que fere a alma sem que ela possa explicá-La.
Assim encontrarás o Pai, o Filho e o Espírito Santo. [...] O Pai como
princípio de tudo, causa do ser de tudo quanto existe e raiz de todos os seres
vivos; d'Ele corre a Fonte da vida, a Sabedoria e o Poder (1Cor 1,24), a
Imagem perfeita e fiel do Deus invisível (Heb 1,3): o Filho gerado do Pai, o
Verbo eterno que é Deus e voltado para Deus (Jo 1,1). Por este nome de Filho
temos a certeza de que Ele partilha a mesma natureza, uma vez que não foi
criado por uma ordem, mas brilha sem cessar a partir da Sua substância, unido
ao Pai desde toda a eternidade, igual a Ele em bondade, igual em poder,
compartilhando da Sua glória. [...] E quando a nossa inteligência for
purificada das paixões terrenas e puser de lado toda e qualquer criatura
sensível, qual peixe que emerge das profundezas até à superfície entregue à
pureza da sua criação, então contemplará o Espírito Santo onde estão o Filho e
o Pai. Este Espírito, sendo da mesma essência segundo a Sua natureza, possui
também todos os bens: a bondade, a rectidão, a santidade e a vida. [...] E,
tal como queimar é próprio do fogo e alumiar da luz, também do Espírito Santo
são próprias a bondade e a rectidão, e não Lhe pode ser tirada a capacidade de
santificar ou fazer viver.
São Basílio (c. 330-379), monge e bispo de Cesareia na Capadócia, doutor da
Igreja
Homilia sobre a fé, 1-3
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