Veni Sancte Spiritus

Sem o Espírito Santo, Deus fica longe; o Evangelho é letra morta; a Igreja é uma simples organização; a autoridade é um poder; a missão é propaganda; o culto uma velharia; e o agir moral, um agir de escravos. Mas, no Espírito, o cosmos é enobrecido pela geração do Reino; Cristo ressuscitado torna-se presente; o Evangelho faz-se poder e vida; a Igreja realiza a comunhão trinitária; a autoridade transforma-se em serviço; a liturgia é memorial e antecipação; o agir humano é divinizado.

Patriarca Atenágoras

Pentecostes

Lucas sublinha a presença de Maria no Cenáculo, aquando do nascimento da Igreja. Era necessária a sua presença suplicante para invocar, confiadamente, a vinda do Espírito. Como em Caná ajudou os discípulos a acreditar no poder de Jesus, também aqui os convida a crerem no poder do Espírito que fez Jesus ressuscitar dos mortos. Ela apoia a fé dos Apóstolos, convidando-os a perseverar na oração.

- J. Lafrance

O dom do Espírito requer uma oração perseverante

O termo original grego para "perseverante" indica uma acção tenaz, insistente, uma ocupação assídua e constante em alguma coisa. Maria e os Apóstolos eram perseverantes ou assíduos na oração, o que significa "tenazmente agarrados" à oração.

Orar longamente, com perseverança, não significa orar com muitas palavras, ou com uma multidão de palavras vazias de sentido, como os pagãos. Ser perseverante na oração significa pedir frequentemente, não deixar de pedir, não desanimar de esperar, nunca se render. Significa não descansar nem dar descanso a Deus: "Vós que recordais o Senhor, não repouseis e não O deixeis descansar até que restabeleça Jerusalém (Is 62, 6-7).

É o Espírito Santo que torna possível a oração contínua. "Quando o Espírito Santo estabelece a sua morada num homem, este nunca pode deixar de orar, porque o Espírito nunca deixa de orar nele. Quer durma, quer esteja acordado, a oração nunca abandona a sua alma, o perfume da oração desprende-se espontaneamente da sua alma. Daí em diante ele ora continuamente" (Isaac de Nínive, séc. VII).

E a novidade trazida pelo Espírito Santo, para a vida de oração, consiste no facto de Ele reformar o "ser" do orante, suscita o homem novo, o homem amigo e aliado de Deus. Ele não se limita a dizer-nos o que devemos fazer, mas fá-lo connosco.

P.e R. Cantalamessa

O dom do Espírito Santo implora-se com a oração

Jesus ligou o dom do Espírito Santo à oração, ao dizer : "Se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai do céu dará o Espírito Santo àqueles que Lho pedem!" (Lc 11, 13). Ligou-o não só a nossa oração, mas também e sobretudo à sua, ao afirmar "Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro consolador" (Jo 14, 16)

A oração dos Apóstolos reunidos no Cenáculo com Maria é a primeira grande epiclese, daquele "Vem Espírito Santo", que continuará a ecoar na Igreja por todos os séculos.

O Espírito Santo é "dom", o Dom de Deus por excelência. Mas Deus não impõe os seus dons, oferece-os. A oração é, precisamente,  a expressão desta aceitação e deste desejo da criatura. É a expressão da liberdade que se abre à graça.

P.e R. Cantalamessa

"Espiritualizar" a nossa oração

O segredo da renovação da oração, tal como descobrimos na vida de Jesus, é o Espírito Santo; é aquele sopro poderoso que pode reanimar a nossa oração esgotada, como a comunicou aos ossos ressequidos de Israel (cf. Ex 37, 1ss). Por isso devemos fazer penetrar este sopro novo na nossa oração pessoal e litúrgica; devemos "espiritualizar" a nossa oração.

Espiritualizar a nossa oração significa fazer com que seja cada vez mais o Espírito a orar em nós, que seja uma oração cada vez menos activa e cada vez mais passiva, cada vez menos discursiva e cada vez mais contemplativa, até atingir - se Deus quiser - a "oração de quietude" em que se coloca simplesmente o coração ao lado do de Cristo e clama com Ele: Abbá, Pai!

- P.e R. Cantalamessa

As condições para receber o dom do Espírito

O Espírito Santo "sopra onde quer" (Jo 3, 8), mas não rejeita o anseio de quem espera por Ele, O invoca e acolhe (embora este mesmo anseio provenha de uma Sua inspiração íntima).

A capacidade de receber este dulcis hospes animae exige a fé, a humildade e o arrependimento, exige normalmente um acto sacramental; e na prática da nossa vida religiosa reclama o silêncio, o recolhimento, a escuta e, sobretudo, a invocação, a oração, como fizeram os Apóstolos com Maria no cenáculo.

Saber esperar, saber chamar: Vem, Espírito Criador..., vem, Espírito Santo!

- Paulo VI