Samaritana (Jo 4, 5-42)
Curiosamente, diante da revelação do segredo doloroso dos seus fracassos afectivos repetidos, a mulher não diz: "Senhor, eu oiço, tu és um profeta", mas "eu vejo". Ela viu neste olhar que mergulha directamente nas profundezas da sua alma, que um futuro está aberto, mesmo para uma herética e uma pecadora. A esperança infiltrou-se no coração desta mulher. Ela agarrou a mão que o Senhor lhe estendeu.
Aproveitando a disponibilidade da sua interlocutora, Jesus convida-a a passar de uma religiosidade ainda marcada pela superstição ao projecto de uma fé trinitária: "Mas chega a hora - e é já - em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade». A promessa é para o futuro: é preciso que primeiro, do alto da cruz, Jesus derrame o Espírito "que iam receber os que nele acreditassem" (Jo 7, 39). É bebendo a água viva que sai do coração ferido pela lança, que a humanidade reconciliada encontrará de novo o caminho para uma relação verdadeira com o seu Deus.
No coração destes 40 dias de travessia do deserto, venhamos nós também à hora do meio-dia à beira do poço da misericórdia, e cheios de reconhecimento bebamos as águas nas fontes da salvação.
- Père Joseph-Marie Verlinde